Nos últimos anos, o setor da construção civil passou a enfrentar um grande desafio: equilibrar produtividade com responsabilidade ambiental. Em meio a essa busca, o drywall, sistema construtivo amplamente utilizado em obras comerciais e residenciais, ganhou destaque.
Prático, leve e de instalação rápida, esse material vem sendo apontado como alternativa moderna às alvenarias convencionais. No entanto, à medida que a pauta da sustentabilidade se fortalece, surge uma pergunta inevitável: o drywall é, de fato, uma escolha sustentável?
Neste texto, analisamos os impactos ambientais do drywall em diferentes fases — desde a fabricação até o descarte — para entender melhor seu papel dentro de uma construção mais consciente e responsável.
Por que o drywall se tornou tão popular?
A popularidade do drywall se deve a diversas vantagens práticas. A instalação é mais limpa e rápida do que a alvenaria tradicional, o que reduz o tempo da obra e, consequentemente, o consumo de recursos. Em suma, o drywall oferece bom desempenho térmico e acústico, sendo versátil em ambientes residenciais, comerciais e corporativos.
Porém, para além da funcionalidade, é essencial considerar os efeitos desse material no meio ambiente.
Matéria-prima: um ponto crucial
A produção do drywall tem como principal componente o gesso, extraído do minério chamado gipso (ou gipsita). A mineração da gipsita é um processo que, embora não tão agressivo quanto o de outros minerais, ainda provoca impactos ambientais relevantes. A extração exige movimentação de solo, consumo de água e geração de resíduos sólidos.
Por outro lado, a gipsita é encontrada em abundância em diversos países, o que reduz a necessidade de transporte de longas distâncias, diminuindo a pegada de carbono. No Brasil, as maiores jazidas estão localizadas no Nordeste, região que também concentra grande parte da produção nacional.
Vale destacar que, em algumas regiões, parte do gesso utilizado na fabricação das chapas de drywall já é proveniente de subprodutos industriais, como resíduos de usinas termelétricas. Essa reutilização contribui positivamente para a redução da extração mineral, embora ainda não seja uma prática majoritária.
Produção industrial e consumo energético
A etapa de industrialização do drywall é considerada relativamente eficiente em termos energéticos quando comparada à produção de tijolos e cimento. O gesso, por exemplo, exige menos calor para calcinação — processo que transforma a rocha em pó utilizável — do que o necessário na produção de cimento Portland.
Significa que, em termos de consumo energético, o drywall tende a ser menos intensivo. Entretanto, como qualquer produto industrializado, sua fabricação ainda depende de combustíveis fósseis, geração de calor e transporte, o que impacta na emissão de gases de efeito estufa.
Apesar disso, fabricantes vêm investindo em melhorias tecnológicas para reduzir esses impactos. Entre as iniciativas, destacam-se a adoção de fontes de energia mais limpas, reaproveitamento de água nos processos e o uso de papel reciclado na composição das chapas.
Instalação: menos entulho, mais eficiência
Um dos principais argumentos a favor da sustentabilidade do drywall está na fase de instalação. Por ser um sistema “a seco”, não há necessidade de água para sua aplicação, ao contrário da alvenaria tradicional que demanda grande volume hídrico para preparo de argamassa e assentamento de tijolos.
Nesse meio tempo, a instalação de drywall gera menos entulho e sujeira. As chapas vêm prontas de fábrica, são cortadas sob medida e instaladas com parafusos e perfis metálicos, o que otimiza a obra e reduz desperdícios. Logo, se traduz em menor impacto sobre os sistemas de coleta de resíduos e em canteiros de obras mais organizados.
Em termos logísticos, a leveza do material também permite o transporte em menor volume e com menos viagens, contribuindo para a redução da emissão de CO₂.
Durabilidade e manutenção
Outro fator a ser considerado é a durabilidade do drywall. Quando bem instalado e em ambientes com controle de umidade, ele pode ter vida útil tão longa quanto a da alvenaria. Porém, em locais sujeitos à infiltração ou vazamentos, o material pode sofrer danos mais rapidamente.
Entretanto, sua manutenção é simples. Pequenos reparos podem ser feitos de forma localizada, sem necessidade de demolições. No entanto, novas tecnologias vêm permitindo o desenvolvimento de chapas mais resistentes à umidade e ao fogo, ampliando sua aplicação com segurança.
Nesse sentido, o drywall também se mostra vantajoso ao permitir reformas rápidas e com menor geração de resíduos, contribuindo para um ciclo de vida mais sustentável em projetos de longo prazo.
E o descarte? Um dos maiores desafios
Se a produção e a instalação apresentam bons indicadores ambientais, o mesmo não se pode dizer do descarte. No Brasil, ainda são poucos os centros especializados na reciclagem de drywall, o que dificulta o reaproveitamento em larga escala.
A estrutura do material — gesso entre duas lâminas de papel — dificulta a separação manual. Ou seja, quando descartado de maneira inadequada, o gesso pode liberar sulfeto de hidrogênio, um gás tóxico e malcheiroso, prejudicial tanto à saúde quanto ao meio ambiente.
Contudo, há soluções em andamento. Algumas empresas já utilizam tecnologias que permitem a trituração e separação dos componentes, possibilitando o reuso do gesso na fabricação de novas chapas ou como corretivo agrícola, prática já comum na Europa. O grande entrave ainda é a falta de incentivo e estrutura logística no país para viabilizar esse tipo de reciclagem em larga escala.
Comparativo com sistemas tradicionais
Quando comparado à alvenaria convencional, o drywall apresenta vantagens significativas em diversos quesitos ambientais. A economia de água, o menor consumo de energia na produção, a redução no volume de resíduos e a leveza do transporte pesam a favor do material.
Por outro lado, a questão do descarte continua sendo um ponto sensível. Enquanto os resíduos de alvenaria podem ser reaproveitados como agregado na construção civil, o drywall ainda enfrenta barreiras para alcançar o mesmo nível de circularidade.
Caminhos para uma construção mais verde
Para tornar o drywall uma escolha verdadeiramente sustentável, é essencial investir em políticas públicas de reciclagem, incentivos fiscais para empresas que reutilizem materiais e conscientização dos profissionais da construção.
A adoção de boas práticas — como aquisição de materiais de fabricantes com responsabilidade ambiental, planejamento correto para reduzir sobras, instalação qualificada e descarte adequado — também contribui para minimizar os impactos negativos.
Só para ilustrar, a integração de sistemas construtivos pode gerar resultados ainda melhores. Em muitos casos, o drywall pode ser combinado com estruturas metálicas ou modulares que, juntas, aumentam a eficiência da obra e reduzem sua pegada ecológica.
Drywall é sustentável?
A resposta é: depende. O drywall apresenta características que o tornam mais sustentável que sistemas tradicionais em muitos aspectos, principalmente na fase de construção. Seu menor consumo de recursos naturais, rapidez de instalação e menor geração de resíduos são pontos positivos relevantes.
Entretanto, os impactos da extração de matéria-prima e, principalmente, as dificuldades relacionadas ao descarte e à reciclagem ainda são obstáculos que impedem o drywall de ser plenamente considerado um material verde.
O caminho para a sustentabilidade passa, necessariamente, pela melhoria de processos industriais, pela ampliação da logística reversa e pelo engajamento de toda a cadeia da construção civil — de fabricantes a consumidores finais. Com esses avanços, o drywall pode, sim, ocupar um papel de destaque em um futuro mais sustentável para o setor.